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GRAVIDEZ (II)
Durante a licença-maternidade, foram trinta e seis horas de dedicação diária. Sem problemas, claro. Se pudesse, ela tomaria para si qualquer sofrimento do astro da casa: “o bebê mais lindo e mais amado do mundo!” Até hoje se gaba de nunca ter-lhe aplicado uma palmada. Sequer uma palmadinha! Os castigos físicos, comuns na época, foram substituídos por “vamos conversar com mamãe, meu amor, vamos...”. Com voz mansa, colocava-o sentado num banquinho de madeira, e explicava como deveria se comportar, na sua visão de mãe, e que ali deveria ficar alguns minutos para pensar. Ficou tão treinadinho, que quando julgava estar fazendo algo errado, se adiantava e dizia: “— Mãe, cunversa, mãe, cunversa...”, dirigindo-se ao banco de madeira. Mas, voltando ao término da licença-maternidade, chegou a hora de voltar ao trabalho. Sentimento de culpa... Que sofrimento! A vovó estava lá, disponível, laboriosa, cuidadosa, amorosa, mas não era ela! Além disso, sua condição física, em razão da idade, impunha a necessidade de contratação de babá. E toma sofrimento! Contratou babá, depois de criteriosa seleção, parecida com a de Harward. A “seleção” foi acertada, pois foram quatro anos de tranquilidade (relativa!), monitorada por telefonemas diários e pela vovó laboriosa. Com o passar do tempo, houve o desgaste natural nas relações, culminando com a necessidade de substituir a babá. Essa situação trouxe preocupações extras, eis que agora “o bebê mais lindo e mais amado do mundo”, agora, com quatro anos, estaria exposto ao primeiro trauma de sua breve experiência de vida, dado que nesses quatro anos de convivência, laços de afetividade deveriam ter sido construídos. Para minimizar essa possibilidade, foram adotados os mesmos critérios de seleção (ainda nos moldes de Harward), mas agora com o apoio de uma psicóloga, para o momento da apresentação da nova auxiliar. — Meu filhinho amado, esta aqui é a nossa nova amiga que vai cuidar de você enquanto mamãe estiver fora de casa. Ela gosta muito de brincar e sabe contar histórias maravilhosas! O menino, sério, olhou-a por alguns segundos, como se a estivesse analisando, e soltou esta: (ou inquiriu?) — Sabe fazer mamá? — Sei sim, queridinho... Deu as costas para a “plateia” estupefata, perplexa, e voltou a brincar com sua frota de carrinhos e caminhões, sua paixão. E todos voltaram a respirar novamente... Nilton Deodoro
Enviado por Nilton Deodoro em 05/06/2015
Alterado em 05/06/2015 |