Nilton Deodoro

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SORRISO. 
 
 
     Foi a única ideia que me ocorreu para individualizar figura tão simpática, impregnada de magnetismo pessoal encantador.
     Batizei-o, mentalmente, Sorriso!
     Quando preciso resolver algo em bancos ou em alguma loja de dois pequenos shoppings contíguos perto de casa, gosto de estacionar naquela rua secundária, pois sempre encontro vaga, embora pague o preço de caminhar por uns duzentos metros, o que não faz mal a ninguém, não é?
     Dada a  baixa rotatividade de carros ali, nem “flanelinhas” costumam exercer “domínio” sobre a área.
     Aqui no Recreio, depois da explosão imobiliária, é difícil encontrar vaga com facilidade.
     Para minha surpresa, hoje a área “tava dominada” — pelo Sorriso!
     Batida a porta do carro, caminhou em minha direção catando com a ponta da vassoura inclinada algumas folhas fugidias da última varrida ou trazidas pelo vento.
     Talvez à guisa de apresentação, aproximou-se comentando sobre a necessidade de jogar "um"sal grosso na “minha” rua, pois segundo ele, estava  muito “carregada”....

     Conhecedor do assunto somente por “ouvi dizer”, não me senti competente para opinar, aceitando sua premonição ou condição de “medium”, sei lá..., me  restringindo, apenas, a pronunciar um “é” reticente, despido de qualquer entonação que pudesse significar assertividade.
     Na volta, disposto a oferecer-lhe pela "guarda" do carro um valor que lhe proporcionasse almoçar, fui surpreendido duas vezes: a primeira, pelo inesperado desaparecimento do Sorriso, vassoura inclusa; e a segunda, por saber da consideração  que despertei no Sorriso, merecedor que fui da proteção contra o ambiente “carregado” do local, ao ver o teto do carro totalmente coberto de sal grosso, parecendo espargido como quando se joga milho às galinhas...
     Não me aborreci e nem me atrevi a discordar quanto ao acerto do ritual que Sorriso impôs ao meu carro, eis que desde cedo aprendi que “não se brinca com essas  coisas”.
     Entretanto, é certo que, até aqui, eu e meu carro nos mantemos ilesos de males porventura a que tenhamos sido expostos.
     Oxalá Sorriso, diante das agruras que a vida lhe impôs, também  esteja protegido por alguns  eventuais cristais de sal, que sobre si porventura tenha caído...
Nilton Deodoro
Enviado por Nilton Deodoro em 27/10/2019
Alterado em 17/12/2019


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